terça-feira, 13 de março de 2012

TUDO O QUE VOCÊ SEMPRE QUIS SABER SOBRE STAR TREK




É muito comum o público geral confundir Star Trek (Jornada nas Estrelas) com Star Wars (Guerra nas Estrelas), ou até mesmo os próprios fãs das duas franquias se digladiarem em provocações exaltando as qualidades de suas paixões.
Nestas pelejas, Star Trek é frequentemente acusado de ser parado, confuso e entediante. E pode até ser para uma mente distraída, mas em uma análise mais minuciosa, a riqueza encontrada na fronteira final do espaço justifica o fenômeno que revolucionou a cultura pop e moldou o universo nerd que conhecemos hoje, antes mesmo da saga de George Lucas.

Hoje, depois de 6 séries de TV 11 filmes, fica difícil imaginar que Star Trek (1966-1969) não chegou ao mundo na glória do sucesso. Na verdade, as dificuldades que o criador Gene Roddenberry enfrentou para conseguir lançar e manter a série foram resultados óbvios do impacto de ideias visioárias em um monolito de conservadorismo.
Star Trek estreou em 1966 com um elenco multiétnico, que obedecia o conceito de um futuro utópico, de paz e união mundial justamente em uma época conturbada pela segregação racial nos Estados Unidos, guerra do Vietnã, o medo vermelho do comunismo e da guerra nuclear.
A rede NBC repudiou o piloto “The Cage” (A Jaula), que apresentava uma mulher (Majel Barrett, que depois se tornou a Sra. Roddenberry) como a oficial segundo em comando da Enterprise. Segundo a emissora, a ideia era ridícula e ninguém jamais acreditaria nisso, nem em um programa de ficção-científica.
Muita coisa teve que ser mudada para Star Trek nascer como uma série. Todo o elenco do piloto caiu, com exceção de Leonard Nimoy (que permaneceu como Spock, mas ganhou sua fria lógica sem emoções) e Majel Barrett (que virou enfermeira) em um segundo piloto chamado “Where No Man Has Gone Before” (Onde Nenhum Homem Jamais Foi).
Capitão Pike (Jeffrey Hunter) e Spock (Leonard Nimoy) no piloto rejeitado “The Cage”.

NBC queria um elenco principal de homens brancos. Roddenberry não podia ganhar todas as batalhas, então deu o posto de segundo em comando a Spock, que era incialmente visto como um homem estranho de aparência satânica, mas acabou passando. Com esta jogada e com uma patente menor, Roddenberry não só conseguiu manter uma mulher na ponte de comando, mas conseguiu um feito inédito: uma mulher negra em um elenco principal, a oficial de comunicações Uhura (Nichelle Nichols).
FATO CURIOSO: Como seu papel era pequeno, Nichelle Nichols pensava seriamente em deixar a série. Quem a convenceu de ficar foi ninguém menos que o Dr. Martin Luther King, dizendo que ela era um símbolo e um modelo a ser seguido por todas as jovens negras norte-americanas.
A tripulação original. Da esquerda para a direita: ScottySpockKirkMcCoyUhura eChekov.

Spock Uhura se juntaram o capitão James T. Kirk (William Shatner), o engenheiro-chefe Scotty(James Doohan), o timoneiro Hikaru Sulu (George Takei), que neste segundo piloto era médico. Os outros membros da tripulação clássica viriam depois. O Dr. Leonard “Magro” McCoy (DeForest Kelley) entraria para o grupo no início da série e o navegador Pavel Chekov (Walter Koenig) só na 2ª temporada.

A FRONTEIRA FINAL

Mas engana-se quem pensa que a série estourou logo no início. Ou no meio. Ou no final. Na verdade isso jamais aconteceu enquanto era produzida. Apesar de ter um público fiel entre jovens universitários, nunca atingiu índices satisfatórios de audiência.
Alguns atribuem isso ao pioneirismo antes de seu tempo, outros ao fato da série nunca ter tido chance no horário nobre da NBC. O fato é que Star Trek esteve em apuros desde sua concepção e durou apenas 3 temporadas.

O que foi descoberto tardiamente na extinta série, foi o cerne da boa Sci-Fi, que é estabelecer uma verdade científica, dar um passo além no imaginário, e discutí-la.
Enquanto o cinema pipoca da década de 1950 trazia a Terra enfrentando terríveis invasões alienígenas, Gene Roddenberry pensava: Peraí! Por que uma raça alienígena quereria invadir a Terra? Quais seriam os motivos políticos? De que forma ela seria vista por outras raças ao covardemente assolar uma sociedade inferior, sem capacidade de defesa?

O espaço não era apenas um novo lugar para invocar os mesmos monstros dos mapas navais do século XV. A galáxia deveria estar repleta de complexas sociedades, impérios, conquistadores e mediadores da paz.
E qual seria o papel da humanidade nesse cenário? Uma vez que a Terra havia atingido um patamar de uma utopia socialista, eliminando o dinheiro, guerras, fome e doenças, de onde viria o desafio? E quem estaria a frente dele?
Entra o fantástico texto de abertura, que em poucas palavras justifica exatamente o espírito de Star Trek e nos mostra o que podemos esperar desde admirável mundo novo.

“Espaço, a fronteira final. Estas são as viagens da nave estelar Enterprise em sua missão de cinco anos em busca de estranhos novos mundos, novas vidas e novas civilizações. Audaciosamente indo aonde nenhum homem jamais esteve.”
A humanidade estava inserida e enterrada nas burocracias diplomáticas de uma comunidade galáctica, representada pela Federação Unida dos Planetas, no entanto, dentre os massivos recursos da Frota Estelar, havia uma nave inteiramente dedicada à exploração do desconhecido, tripulada por desbravadores sob o comando de James T. Kirk e seu oficial de ciências, o meio-vulcano/meio-humano Spock.

Uma combinação de personagens que deu muito certo. Enquanto Kirk, apesar de competente, era um capitão impulsivo, que rasgava qualquer manual ou protocolo de ação da Frota Estelar em prol do instinto, Spock, em toda sua lógica vulcana e emoções suprimidas, era um contrassenso perfeito nesta mistura.
Notável também era a personalidade forte e o frequente mau humor do Dr. McCoy com seus bordões típicos, como “Eu sou um médico, não uma escada rolante!”, ou o alívio cômico de Scotty aos berros pelo intercomunicador dizendo que não podia quebrar as leis da física, quando o captão exigia mais velocidade e mais potência nos escudos da nave.

CENA CLÁSSICA: No episódio “The Trouble with Tribbles”, um Klingon começa a bradar insultos a ao capitão Kirk em um bar. Scotty acalma Chekov, dizendo que eles eram melhores do que isso, que não precisavam brigar por causa de meros insultos ao seu capitão. Mas no momento em que o Klingon passa dizer que a Enterprise era uma lata velha mal projetada e que deveria ser descartada como lixo, o próprio Scotty se levanta e desce o cacete no fanfarrão.
Essa era a miscigenada atmosfera da USS Enterprise NCC-1701, que também se tornou um “personagem” de toda a franquia, mudando de forma com o passar das eras na cronologia trekker.
Aos fãs, sempre doeu vê-la danificada ou até mesmo destruída, mesmo sabendo que certamente seria substituída por um modelo igual ou mais moderno.
Apesar de escrever sobre o espaço, Roddenberry sempre manteve uma concepção náutica em suas naves, com centenas de tripulantes, oficiais em pontes de comando e salas de máquinas. Aquela agilidade da Millenium Falcon fugindo das TIE Fighters em Star Wars simplesmente não existia em Star Trek.
As manobras de combate eram traçadas com antecedência, uma vez que as colossais naves se moviam lentamente. A mira dos phasers tinha de ser caulculada pelo artilheiro e o os torpedos de photons carregados manualmente.
As batalhas não eram rápidas, mas tinham o charme dos conflitos navais entre monstros de metal.

TECNOLOGIA

Star Trek estava sim à frente de seu tempo, não só em sua filosofia, mas como no campo tecnológico.

WARP SPEED

Segrè and Chamberlain acabara de descobrir o antipróton em 1955 e Roddenberry já visualizava uma nave movida por uma reação de matéria/antimatéria, resultante em um electro-plasma que era canalizado pelos longos condutores na cauda da nave. Desta forma ela podia gerar um campo de distorção do contínuo espaço-temporal para impulsioná-la a velocidades mais altas que a da luz.

TELETRANSPORTE

O muito últil teletransporte não foi planejado, mas foi incorporado à série por causa de uma inconveniência frequente: dificuldades orçamentárias.
Simplesmente não havia dinheiro para filmar modelos de naves de transporte pousando e decolando de tantos cenários diferentes em miniatura. A solução foi simples. Por que simplesmente não teletransportar os tripulantes para os cenários de isopor pintado e papel crepom?

GADGETS

Fora as portas automáticas, as vídeo-conferências, os phasers atordoantes, os comunicadores de mão (o celular flip StarTAC se chamou assim em homenagem à série, é o que dizem), o gadget mais notável era o Tricorder. Era um sensor móvel, capaz de analisar materiais, campos energéticos e basicamente qualquer coisa estranha ao seu alcance. No início era meio que um trambolho carregado por Spock como uma bolsa, mas depois foi evoluindo para versões menores e com outras funções, como a de analisar seres vivos e dar diagnósticos médicos.

Tudo isso pode nos parecer trivial hoje, mas na década de 1960 estava além dos sonhos dos mais talentosos engenheiros. E o fato de muita dessa ficção ter virado realidade hoje é mais uma prova da validade da base científica empregada na série, parte de uma escola ferrenhamente defendida por Isaac Asimov desde que começou a escrever, fugindo dos antigos modelos mais simplificados da “fantasia pura” em troca de algo mais plausível em nosso mundo.

O FENÔMENO


Com o cancelamento em 1969, todos os envolvidos consideraram seus trabalhos feitos e encerrados. Não poderiam estar mais enganados.
Em vez de ser esquecida, a série seguiu justamente o caminho oposto. De alguma forma, suas reprises ficavam cada vez mais populares. E foi assim que uma geração inteira de fãs (re)descobriuStar Trek e o elevou ao status de cult.
Neste fervor de sucesso, em 1972 nasceu a primeira convenção trekkerda história em Nova York. A ideia de convenções nerds não era nova (em 1970 aconteceu a 1ª Comic-Con em San Diego), mas certamente ostrekkers ajudaram popularizá-las ainda mais.
Os organizadores da convenção esperavam algumas centenas de participantes, mas logo de cara tiveram que receber mais de 3000. Não era para menos, já que além de exibirem o inédito piloto “The Cage” em 16mm, ainda conseguiram levar nomes de peso, como o próprio criadorGene Roddenberry e um dos maiores autores de ficção-científica da história, o megaboga lendário Isaac Asimov.
James Doohan (Scotty) em uma das convenções trekkers.

As convenções cresceram em tamanho e em frequência e praticamente se tornou o novo “emprego” do elenco, que pulava de uma para outra, fazendo palestras, respondendo perguntas e dando autógrafos aos fãs.
Durante toda a década de 1970 tentou-se explicar o fascínio explosivo pela ficção-científica. Uma delas estaria intimamente ligada ao apogeu da corrida espacial, afinal o homem acabara de pisar na lua em 1969 e o programa Apollo continuava mandando seus astronautas para o espaço como se fosse para comprar leite na padaria.
Diante deste fenômeno, a NBC, detentora dos direitos, tinha a faca e o queijo na mão. Chegou a lançar uma série animada entre 1973 e 1974 com as vozes originais (menos a de Walter Koenig), mas o grande planejamento mesmo era trazer a série live-action de volta  sob a alcunha de Star Trek: Phase II. Embora isso não tenha acontecido, o astronômico e inédito sucesso de Star Wars nos cinemas (em 1977) pavimentou a estrada para a produção definitiva (que também vinha sendo cogitada) do primeiro longa metragem de Star Trek.

STAR TREK NO CINEMA


Em 1979 estreava Star Trek: O Filme, com um orçamento de US$ 35 milhões. Mas a maior batalha não foi travada no espaço e sim nos estúdios da Paramount Pictures. A produção tinha todo o elenco original da série, um diretor vencedor de Oscar (Robert Wise), colaboradores de peso como os mestres da ficção-científica Ray Bradbury e Isaac Asimov, só não tinha uma coisa: roteiro.
Quando o filme começou a ser rodado, apenas estava definido que uma grande ameaça estava indo em direção da Terra e só a Enterprise poderia salvá-la.
Brinca-se até que a famosa cena em que a nave adentra a misteriosa nuvem cósmica é tão demorada porque os roteiristas ainda estavam inventando o que haveria dentro dela.
Mesmo sob essa imensa pressão, o roteiro funcionou e o filme foi um grande sucesso de bilheteria, chegando a quase US$ 140 milhões no mundo inteiro.
Após viver um sucesso fantasma por uma década, finalmente Star Trek estava de volta, maior e melhor. A ressurreição bem sucedida colocou KirkSpockMcCoySuluChekovUhura Scottyno auge por 6 filmes no total, encerrando sua épica jornada em grande estilo e na hora certa.
FILMES DA TRIPULAÇÃO ORIGINAL
  • Star Trek: O Filme (1979) – Trailer
  • Star Trek II: A Ira de Khan (1982) – Trailer
  • Star Trek III: A Procura por Spock (1984) – Trailer
  • Star Trek IV: A Volta para Casa (1986) – Trailer
  • Star Trek V: A Fronteira Final (1989) – Trailer
  • Star Trek VI: A Terra Desconhecida (1991) – Trailer